quinta-feira, 2 de junho de 2011

Entrevista Vanderlei Oliveira





O repórter cinematográfico da TV Globo Minas e estudante de Jornalismo da PUC Minas Vanderlei Oliveira fala sobre censura, liberdade de imprensa e de expressão, dentre outros assuntos. A entrevista foi realizada pela aluna Fernanda Fernandes Borges, em junho de 2011. Fotos: Fernanda Fernandes Borges

1) Você já vivenciou em sua profissão a falta de liberdade de expressão?
Enquanto o jornalismo for pautado pela publicidade, os órgãos de imprensa forem pautados por interesse vai haver uma certa restrição. No campo da política e do esporte, isso é mais evidente.

2) O que você entende por liberdade de imprensa?
Ela existe quando o cidadão pode se expressar livremente. Poder fazer as imagens que contribuam para o coletivo, para o bem comum.

3) Como você define a liberdade de expressão?
Acho bem restrita em nosso país. O que é pautado é do interesse dos empresários da comunicação e não do cidadão. A Folha de São Paulo é abertamente favorável ao político José Serra e isso necessariamente não reflete a preferência da maioria.

4) É possível ser imparcial em relação a algum fato?
Quando se ouve os dois lados sim. Na empresa em que trabalho temos essa norma. Um ataca, o outro defende.
5) Você já fez alguma gravação oculta?
Já gravei várias vezes com câmera escondida em matérias de interesse público, como denúncias. Isso é válido para a sociedade, porque contribui para uma maior transparência em diversos setores. O editor-chefe é quem decide se deve ir ao ar ou não.
6) Você acha necessária a criação de uma lei de imprensa?
Eu acho que deve haver um controle maior sim. Os jornais sensacionalistas, por exemplo, abusam e fazem do jornalismo um show. Com a criação do ponto eletrônico, o cara sabe se tem audiência ou não em apenas um segundo, dessa forma aproveita para explorar a dor alheia.
7) O que significa censura?
Quando você é proibido de exercer sua função com ética. Eu vivenciei um caso desse, quando o Luís Felipe Scolari era técnico-
Cruzeiro. Ele havia xingado alguns jornalistas em uma coletiva e pedido para eles se retirarem. Eu gravei tudo e foi veiculado com a autorização de editor. No dia seguinte, voltei no local para realizar um trabalho sobre o time e o técnico impediu que eu filmasse, alegando que não falaria comigo, por eu ter feito as imagens.
8) Qual a sua opinião sobre o caso Wikileaks?
É polêmico. Acho válido, quando é para ajudar muita gente. Se há provas para confirmar os fatos, eles devem ser mostrados. Se você não quer que o caso apareça, não deixe que ele aconteça. No entanto, tudo deve ser comprovado. Caso, haja irresponsabilidade, você pode destruir a vida de um ser humano.
9) Qual o maior desafio já enfrentado em sua carreira?
Eu gosto de desafios. É o que me impulsiona a ficar na profissão. Eu tenho que ter objetivos. Quando fui para São Paulo sem emprego, foi uma ousadia. O bom é que ao chegar lá trabalhei na Globo e no SBT na época da Ana Paula Padrão.
10) O que mais te fascina no jornalismo? E o que mais te desagrada?
Ao fazer uma matéria de cunho social, eu fico feliz. Eu sei que de algum modo, estou contribuindo para o bem da sociedade. A qualidade das imagens que faço também é fundamental, pois posso exercer minha criatividade e minha liberdade.
O sensacionalismo é o pior defeito do jornalismo. O enquadramento, o bom gosto são deixados de lado para o exercício
de um trabalho que só visa a audiência e o lucro e em nada contribui para o cidadão.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Oba! Sociedade Interamericana de Imprensa vem ao Brasil discutir a liberdade de expressão.

Em outubro de 2012, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) realizará em São Paulo sua 68ª Assembleia Geral. O lançamento oficial desta edição do evento no Brasil aconteceu na última quarta-feira (25 de maio de 2011) em coletiva de imprensa que reuniu o diretor-executivo da SIP, Julio Muñoz, e o presidente do Comitê Anfitrião, Silvio Genesini, do Estadão. O comitê é composto pelos jornais Estadão, Folha de S. Paulo, O Globo, A Tribuna (Santos), Diários Associados, O Popular (Goiânia), Gazeta do Povo (Curitiba), Zero Hora (Porto Alegre), Correio Popular (Campinas) e pela Editora Abril.

O evento ainda está um pouco longe! Mas, depois de 21 anos, a assembleia anuncia sua volta ao Brasil em um momento pertinente, em que as discussões sobre a liberdade – em suas diversas vertentes – estão fervilhando, tanto na sociedade em geral como no governo. A homofobia, o casamento homossexual e a liberação da maconha podem ser citados como os alguns temas que têm ganhado notória repercussão nos últimos meses. Outros assuntos que estão em constante discussão são a liberdade de imprensa e os crimes cometidos contra jornalistas. Estes serão temas tratados na Assembleia da SIP do ano que vem.

No rol dos temas estarão a liberdade de expressão, lei de acesso à informação, crimes contra jornalistas e empresas, entre outros. “O Brasil vive um período ímpar, com um governo que apoia o setor de imprensa, mas já passou por ditaduras, quando a livre expressão pouco existiu. Ou seja, esse fórum realizado aqui será um benéfico para o país e para as demais nações das Américas”, afirmou Julio Muñoz.

A Sociedade Interamericana de Imprensa é uma organização sem fins lucrativos que se dedica a defender a liberdade de expressão e de imprensa em todas as Américas. Congregando mais de mil jornais, a entidade realiza dois grandes eventos por ano: a Reunião de Meio de Ano e a Assembleia Geral. A assembleia é dividida em três conjuntos: cultural, operacional e estatutária. Nas seções culturais acontecem palestras e seminários sobre assuntos de interesse do setor ou dos associados. Na parte operacional é debatida a principal missão da entidade: a liberdade de expressão. Nessa seção, por exemplo, os países-membros apresentam relatórios do estado de liberdade de expressão no continente, que são debatidos e rendem conclusões para serem entregues aos governos dessas nações. Por fim, na seção estatutária, os membros discutem assuntos internos, administrativos e legais.

Wellcome back to Brazil, SIP!

Fontes: portaldapropaganda.com.br / adnews.com.br

A proibição da marcha da maconha é um atentado contra a liberdade de expressão?

No dia 7 de maio, estima-se que 5.000 pessoas participaram em passeata no Rio de Janeiro em favor da legalização do uso da maconha. O evento inicialmente transcorreu tranquilamente, no entanto o término foi caótico com a detenção de três pessoas.
As justificativas para a liberação do uso da substância estão na necessidade de tirar a maconha do círculo do crime e desmantelar quadrilhas que fomentam o tráfico. Dessa forma, a violência poderia decrescer já que não seriam precisos meios ilícitos para poder conseguir o fumo.
A marcha que iria ocorrer em São Paulo, no último fim de semana foi proibida pela justiça do estado. Os manifestantes resolveram promover uma passeata em prol da liberdade de expressão. Disso fica a indagação : se todo ser humano tem o direito de expor seu ponto de vista sobre determinado assunto, por que esse evento foi proibido?
Segundo Norberto Bobbio, a democracia deve promover debates pacíficos em detrimento de conflitos físicos que visem a atender grupos de opiniões diversas na sociedade. “A livre expressão de idéias , mais que um mero direito do indivíduo, é um relevante instrumento de paz e ordem social.”
Quando o direito à livre expressão não é observado, o que se vê são manifestações pacíficas serem substituídas por espetáculos de violência, como o que ocorreu nesse caso.
O ser humano pode e deve se expressar, desde que não influencie negativamente a conduta e tente impor idéias subjetivas aos demais. Como a marcha não incentivava o uso de drogas e apenas lutava pela sua legalização, a justiça não devia ter proibido esse direito do cidadão em se manifestar.
Lembrando que o álcool, o cigarro também são drogas e podem ser comercializados legalmente. Cabe a cada cidadão definir o que é bom ou ruim para a sua vida. Não é um simples manifesto que afetará o resto de sua vida ou influenciará definitivamente suas decisões.
Fernanda Fernandes Borges

terça-feira, 24 de maio de 2011

Entrevista com Roberto Almeida

O professor da PUC Minas e Coordenador de Comunicação da AIC (Associação de Imagem Comunitária) Roberto Edson de Almeida discute comunicação comunitária, lei de imprensa, democratização da mídia e o caso Wikileaks. Leia a entrevista realizada pelos alunos Fernanda Fernandes Borges, Geraldo Magela da Silva, Leonardo Bruno Dias e Luiza Senna de Valle Fonseca em maio de 2011.

1) De que forma a comunicação comunitária permite a existência da liberdade de imprensa?
O foco da comunicação comunitária é potencializar a liberdade de expressão. A idéia é possibilitar diálogos, debates, discussões, sendo um espaço mais acolhedor. É ampliar as possibilidades de grupos excluídos dos meios convencionais poderem expressar suas falas e pensamentos e verem isso divulgado.
2) A liberdade de expressão é mais perceptível no âmbito comunitário?
Acho que não. Ela não deve ser pensada assim. Deve ser vista como um direito universal. É interessante pensá-la como um todo e não como restrita a um segmento.
3) Nos meios de comunicação convencionais, muitas vezes, concentrados em poucas mãos, é possível haver liberdade de imprensa? E de expressão?
A liberdade de imprensa está relacionada à própria criação da imprensa. O que ocorre é que a concentração dos meios de comunicação dificulta a liberdade de expressão, impedindo uma participação da sociedade em discussões políticas e sociais da esfera pública. O que mais fica prejudicado é a liberdade de expressão.
4) Como é possível democratizar o acesso aos meios de comunicação?
A democratização só é possível quando entendemos a comunicação como um bem público e não como apenas uma simples mercadoria. O fortalecimento de TV públicas e estatais, da comunicação comunitária e o incentivo ás produções independentes podem ser um caminho paliativo para a democratização. O problema é o preconceito. Muitas vezes, rádios comunitárias são denominadas “piratas”, remetendo a um sentido marginal. O fundamental é entender que a falta de democratização é um reflexo da concentração de poder que existe em nossa sociedade.
5) Você acha necessária a criação de uma lei de imprensa? Por quê?
Sim. Porque a comunicação vive uma desregulamentação muito esquisita no momento. As regras existentes para controlá-la ou puni-la estão no código civil e penal. É necessário haver uma maior ordenação para punir os desvios, regular alguns conteúdos e impedir censuras veladas.
6) O jornalismo, muita vezes é praticado de modo a atender aos interesses capitalistas e se esquece de suas responsabilidades com a sociedade e a ética. Como evitar isso?
O mundo em que vivemos é capitalista. O interessante seria criar espaços para discussões junto à sociedade civil. O jornalismo pode ser explorado comercialmente, desde que não se restrinja a isso. Os cidadãos devem discutir por meio de debates plurais e abertos. Trabalhar com comunicação não é a mesma coisa que produzir cadeiras, canetas e outros objetos. Os empresários precisam entender isso.

7) A regulação da mídia é censura?
Não. Algumas vezes, os problemas são as palavras empregadas como “regulação” que denota uma espécie de censura ou punição. A Confecom (Conferência Nacional de Comunicação), ocorrida em 2009 em Brasília, não tinha como objetivo proibir conteúdos e sim pluralizar e regionalizar as produções como é defendido pela Constituição, permitindo uma maior diversidade cultural. O objetivo não era cercear a mídia, estrangular a democracia ou impedir o jornalista de informar, mas sim de efetivar a qualidade democrática do Estado. Isso por meio da multiplicação de vozes e produções descentralizadas e diversificadas que propiciariam um fortalecimento da democracia.
8) O que você pensa sobre o caso Wikileaks?
Considero importante. É difícil construir uma sociedade democrática, quando as decisões são tomadas à revelia do povo. É fundamental colocar os segredos às claras para propiciar debates, questionamentos e discussões.
9) Quais as maiores qualidades do jornalismo?
A imprensa durante o governo Lula se mostrou bastante feroz em relação aos escândalos. Isso é importante, porque mostra que não há unamidade em relação à figura de uma autoridade aclamada pela população, mas não preservada pela mídia que de certa forma cumpriu seu papel ao levar aos receptores a realidade dos fatos. Isso é imprescindível para a democracia.
10) E os piores defeitos?
A pior coisa é achar que fazer comunicação é uma prática como vender carros, canetas ou lápis. O sensacionalismo, o denuncismo e o desrespeito com as fontes em troca de pontos de audiência são abomináveis. O jornalista não deve se deixar levar pela mercantilização desse universo.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Quantas mortes ainda são necessárias?

11 jornalistas foram mortos no Brasil entre os anos de 2005 e 2009. Esse é o levantamento divulgado pela Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) em debate no Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, ocorrida na audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado. Não é preciso procurar muito para achar a causa dos assassinatos. É claro que o objetivo de todos eles é impedir que uma informação seja divulgada. Tudo bem, jornalista não é polícia. Mas, concordo com o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, José Augusto de Oliveira Camargo, quando ele afirma que um crime contra um jornalista é um crime contra a sociedade. Como um policial, um jornalista também tem deveres para cumprir, e a divulgação da verdade é um dever (e não uma opção).

Como ser verdadeiro sem liberdade?

Atualmente a imprensa é um “negócio” como outro qualquer. Seu produto (a notícia) deve agradar aos investidores em primeiro lugar, custe o que custar. Os profissionais da comunicação que tentam “nadar contra a maré” trabalham duro para pautar a verdade em primeiro plano. Alguns pagam o preço com a vida. Quantas mortes ainda são necessárias para que a verdade impere no mundo da imprensa? O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, Lincoln Macário, defende a criação de mecanismos legais que protejam os jornalistas de eventuais cerceamentos cometidos pelas próprias chefias na redação. Concordo plenamente que essa seria uma eficaz medida para “início de conversa”.

Para além das redações, a liberdade de imprensa precisa se tornar uma prática social como muitas outras, desde que não seja praticada com violência.

domingo, 15 de maio de 2011

Julian Assange recebe prêmio na Austrália

No dia 11 de maio, o fundador do Wikileaks recebeu a medalha de ouro da Fundação Sidney Peace, localizada na Áustrália, concedida por sua luta pelos direitos humanos.




O site criado por Assange publicou vários documentos relacionados à Guerra do Iraque e do Afeganistão. Além disso, revelou telegramas diplomáticos dos Estados Unidos que criticavam outras nações e líderes.




A medalha de ouro concendida pela Sidney Peace , há 14 anos, só havia sido atribuída a três pessoas: Dalai Lama, o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela e o japonês Daisaku Ikeda, da asssociação budista Soka Gakkai.




A fundação prestou essa homenagem a Julian Assange por considerá-lo determinado no objetivo de cobrar transparência dos governos. O vencedor de 39 anos, encontra-se em prisão domiciliar na Grã-Bretanha acusado de abuso sexual, na Suécia em 2010. Ele nega veementemente o crime. Fotos: Carl Court/AFP



Fernanda Fernandes Borges



sexta-feira, 13 de maio de 2011

Entrevista com Euclides Guimarães





O sociólogo e professor da PUC Minas Euclides Guimarães fala sobre liberdade de imprensa, expressão, regulação da mídia e outros assuntos de interesse jornalístico. A entrevista foi realizada pelos alunos Fernanda Fernandes Borges, Geraldo Magela da Silva e Leonardo Bruno Dias em abril de 2011.





Como Você define a expressão liberdade de imprensa?


"Liberdade de imprensa é o direito de divulgar assuntos de direito do cidadão. O jornalista deve ter segurança ao expor suas opiniões e não temer a censura. É uma liberdade especial que assegura ao
profissional o direito de manifestar suas idéias".


Para você o que é liberdade de expressão?


"É o mesmo que significa para os iluministas. É você estar protegido pelas regras da sociedade em que vive para se falar o que se pensa sem temer uma repressão ou um cerceamento de seu direito".


Você acha necessário a criação de uma lei de imprensa?

"Hoje quase todas as áreas de atuação humana precisam de uma legislação. Eu acho que seria válido para regular o fato de jornalista virar empresário, já que o jornalismo não se justifica pelo interesse privado e sim público".


A regulação da mídia é censura?

"Acho que na maioria das vezes não. Eu temo, mais do que desejo essa legislação que está sendo pensada no Brasil hoje, por causa dos casuísmos existentes. Esse caso Wikileaks tem que existir mesmo , o direito do jornalista em denunciar coisas feitas pelo poder público deve ser garantido. No entanto, deve haver uma legislação bem elaborada, pois qualquer lei de imprensa tem que estar preocupada em não se tornar uma censura".